Machado de Assis Desprezou a Abolição?
A interpretação do Memorial de Aires, último romance de Machado de Assis, como negligência à história e à sociedade ignora a parcialidade do narrador, representante da elite brasileira.
PUBLICIDADE
OBRAS
Desconfie do Narrador: Machado de Assis Teria Desprezado a Abolição no Memorial de Aires?
O último romance de Machado de Assis, o Memorial de Aires, é frequentemente interpretado como um livro que negligencia a sociedade e a história, pois os eventos relacionados à abolição da escravatura são praticamente ignorados. No entanto, essa leitura não leva em conta o fato de que o narrador do romance é uma das personagens, o conselheiro Aires, representante da elite brasileira do Segundo Reinado.
O narrador exerce sua parcialidade ao proteger a imagem da classe dominante, justificando comportamentos que poderiam comprometê-la e minimizando as contradições entre o discurso e as ações das personagens. O compromisso de classe entre o narrador e as personagens é evidente nos raros comentários sobre a abolição, em que a indiferença e o egoísmo da elite não são criticados, mas justificados.
Machado denuncia a abolição da escravatura no Brasil a partir do ponto de vista da classe dominante, desafiando o leitor a questionar a autoridade do narrador e a pensar criticamente. O romance revela a falta de mudanças sociais significativas após a abolição, deixando os ex-escravizados marginalizados e abandonados.
O Memorial de Aires é uma crítica à elite imperial, que se protege e preserva seus interesses em detrimento da justiça social.
Saiba mais:
Anúncio do lançamento de Memorial de Aires. | Machado de Assis Online
Folha de abertura e manuscritos do Memorial de Aires. | Machado de Assis Online
PUBLICIDADE
REDES SOCIAIS
Confira em Nossas Redes Sociais:
Capa da primeira edição de Libertinagem, de Manuel Bandeira, 1930. | Twitter
Uma foto rara de Bernardo Guimarães. | Twitter
Dois escritores protagonizaram o primeiro acidente de automóvel no Brasil. | Twitter
ICONOGRAFIA
Uma Rainha da Literatura Aguarda Seus Súditos no Coração do Rio
Carolina de Jesus em posto para autógrafo no cruzamento da Avenida Almirante Barroso com Rua México, no Centro do Rio de Janeiro, na época do lançamento da edição de bolso de Quarto de despejo, em 10 de dezembro de 1976. Carolina morreria em fevereiro do ano seguinte.
CURIOSIDADES
O Aparecimento do Romance Quincas Borba, de Machado de Assis
Publicado na revista de moda A Estação, o romance Quincas Borba teve uma divulgação inicial limitada a um círculo restrito de leitores, em contraste com o seu ambiente habitual de literatura leve e simples. Entre 15 de junho de 1886 e 15 de setembro de 1891, essa publicação mundana começou a incluir, entre suas seções e recortes de bordados habituais, trechos deste romance. A versão em formato de livro foi lançada nos últimos dias de 1891, pouco tempo após a conclusão da publicação serializada na revista.
À medida que os capítulos do romance eram publicados, a composição tipográfica era aproveitada para a impressão do livro, após ser revisada pelo autor. A edição impressa foi limitada a apenas mil exemplares. O autor, Machado de Assis, escreveu este romance com a intenção de prolongar o humorismo das Memórias Póstumas, relacionado à filosofia do Humanitismo, como pode ser inferido a partir do capítulo 4. Para a edição em livro, Machado alterou e suprimiu vários capítulos, além de escrever outros, evidenciando um cuidadoso trabalho artístico.
Durante a escrita de Quincas Borba, Machado estava recuperado da crise pessoal refletida nas Memórias Póstumas e mais voltado para a vida do que para a morte, ao contrário dos dias conturbados de 1878. Ele tinha 47 anos, a mesma idade que Stendhal tinha quando escreveu O Vermelho e o Negro, e era considerado um dos principais escritores nacionais.
A escrita deste romance ocorreu durante um período de convulsão social e política no país, marcado pelo avanço das ideias abolicionistas e republicanas, que levaram à extinção do regime monárquico e ao exílio da família imperial. No mesmo período, Machado de Assis escreveu alguns de seus melhores contos, como "Entre Santos", "A Desejada das Gentes", "O Caso da Vara" e "Eterno!", este último com um colorido metafísico expressivo.
Conheça a Edição Mais Completa do Romance
A Obliq Livros lançou a mais completa edição do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, disponível atualmente no mercado brasileiro, com mais de 1000 notas, caderno de fotos, extras e cartografia literária (todos os cenários do romance podem ser visitados virtualmente a partir de apps como Google Maps e Street View).
Saiba mais:
Estreia do romance Quincas Borba em folhetim (junho/1886) | A Estação
O novo livro do sr. Machado de Assis (janeiro/1892) | Jornal do Brasil
Quincas Borba Anotado, quinto volume da coleção Clássicos Anotados, da Obliq Livros
NOTÍCIAS
Os Clássicos da Literatura Brasileira na Imprensa:
Nos caminhos da Moreninha. | Appai
20 clássicos da literatura brasileira. | Brasil Escola
Bernardo Guimarães previu o Viagra em poema pornô do século XIX. | Veja
Enem 2023: Literatura exige conhecimento dos clássicos e hábito de ler. | O Liberal
20 obras memoráveis de grandes escritores da literatura brasileira. | Aventuras na História
5 livros para os jovens perderem o medo de ler clássicos da literatura brasileira | Portal Hortolândia